quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A boa acção do dia está feita mas não aquece o coração.

A melhor amiga da minha mãe, viúva, está a passar um mau bocado. Uma grande amiga. Uma grande Mulher. Perdeu o marido há 2 anos. É Angolana mas vive em Portugal há mais de 15 anos. É mais uma refugiada da guerra. Deixou tudo para trás. Casa, lembranças e a vida de alguns irmãos e outros familiares. Uma guerreira e lutadora. Já a sua filha... não se pode dizer o mesmo. Não quer fazer nada. Aproveita-se da mãe e apesar desta ter uma doença que a incapacita de trabalhar, para não entrar no limite da pobreza vai fazendo uns biscates aqui e ali. A filha? Bem, esta tem mais 2 filhas, não trabalha, um marido que também não trabalha, acorda as 14h ou mais tarde e ainda quer que a mãe lhe dê dinheiro para tabaco e cafés. A mãe nega-se quando tem forças, mas quando não tem, cede. Cede à força. Cede porque sofre agressões. Cede porque tem a esperança que o drogado seja só o marido da filha e não ela. Pediu ajuda à segurança social para ajudá-la a tirá-los de sua casa mas nada adiantou. A assistente social disse que nada podia fazer. Ela queria fazer queixa à GNR mas tem medo que tirem as crianças da mãe. É errado? Não sei. É amor! Em Janeiro ela foi para Angola porque não aguentava mais tudo isto. Depositava a pensão de invalidez na conta bancária da filha para pagar água,luz, gás,etc. Na sexta-feira ela encontrou uma carta rasgada e foi ver o que era. Pânico! Cartas de advogados a cobrar. A filha nunca pagou uma única conta. Tem 600€ de telefone para pagar, 200€ de água, 150€ de luz e 3 meses de dívida ao banco por não pagar a casa. Caiu-lhe tudo. Partiu-se-lhe o coração. E o meu também. Quando meu pai faleceu, ela foi mais que uma amiga. Ela foi uma 2ª mãe. Uma irmã para minha mãe. Estava ali para nos apoiar em tudo. Se precisássemos de qualquer coisa era só lhe ligar. Ela é daquelas senhoras que toda a gente adora no bairro. Hoje ouvi-a a dizer: "Eu criei um monstro"! E criou. Nessa mesma sexta-feira as irmãs juntaram-se e deram-lhe os 600€ para ela pagar a conta do telefone. Ela depositou. No sábado quando ia pagar já não estava lá o dinheiro, a filha levantou e gastou. Por que sim, porque lhe apeteceu. (Uma vez a mãe deu-lhe dinheiro para ir pagar a prestação da casa e ela lembrou-se que era mais giro fazer uma tatuagem). Não pensem que ela é uma burra por acreditar na filha. Não, ela é mãe. Tem esperanças. Toma kg e kg de remédios para controlar o sistema nervoso (sistema esse abalado e destruído pela filha. A depressão e esgotamento foram tão grandes que ela ficou gaga para sempre). A esperança dela morreu no sábado. Ganhou coragem e expulsou a filha e o marido de casa. Com o coração nas mãos por causa das netas pequeninas mas teve de ser. Deu-lhe a hipótese de ficar com as netas mas a filha não quis. Saiu de casa e levou tudo. TU-DO! Ela deixou a mãe até sem  sacos do lixo e sem dinheiro para comprar essas coisas "supérfluas". Hoje fui lá à casa e perguntei-lhe se ela tinha dinheiro para comer. Ela disse-me para não me preocupar que tinha arroz, massa e 1kg de miúdos que dava-lhe para fazer canja para um mês. E anda uma pessoa a pensar o que vai oferecer no Natal a este e aquele porque o orçamento é curto. Cortei alguns amigos da lista (mil perdões), agarrei em 20€ e fui ao talho. Comprei-lhe frango, bifes, carne picada, salsicha, carne para fritar,etc.. Um bocadinho de cada coisa (e como a refeição é para uma pessoa) deu para encher um saco grande. Cheguei lá e disse: A minha prenda de Natal! Não lhe dei tempo de resposta (eu sou uma chorona e ia ficar ali um lago) e  vim embora. Agora estou aqui em casa a fazer um cestinho com leite,bolachas e iogurtes. A boa acção do dia está feita mas não aquece o coração.

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